quarta-feira, 3 de julho de 2019

Crer e Pensar #012

SOU CRISTÃO APESAR DA IGREJA - Parte 03


Nasci e me criei dentro de uma cultura cristã evangélica. Passei minha adolescência de forma atuante e envolvido nos trabalhos desenvolvidos pela igreja a qual eu fazia parte. 

Por volta dos meus 18 anos comecei a questionar de forma incisiva o comportamento da instituição e principalmente daqueles que a lideram, estadual e nacionalmente e junto, claro, veio o desprezo por parte de alguns. Afinal, ir contra o que estava proposto sempre foi inadmissível naquela instituição, em algumas ainda continua sendo. 

[...]
Eu cresci ouvindo que não podíamos discordar da palavra do pastor. Era algo que sempre me incomodou, mas me mantinha fiel a esta regra. Quando passei a ter consciência de um evangelho puro e simples, através das leituras diferentes das que me eram apresentadas, entendi que o homem não só complicou a realidade do amor de Jesus por nós, como mercantilizou-o absurdamente. O que nos era dado pela graça de Deus, de forma abundante e inexplicável, agora era uma recompensa ao que eu fazia enquanto servo de uma igreja e como obedecia às ordens dos seus líderes.

Muita coisa deixou de fazer sentido para aquele jovem questionador!

A igreja que antes protestava e dava a mão ao necessitado, acolhendo e abraçando em suas angústias, agora se torna cada vez mais parecida com aquela em que rompeu séculos atrás. Vendendo as bênçãos e o perdão. Cobrando, absurdamente, dos fiéis que desejam fazer parte daquele rebanho.

Hoje, eu vejo uma igreja mais preocupada com sua participação efetiva na política (não que isso não deva acontecer) do que sua participação para minimizar os traumas sociais que vivenciamos todos os dias. Os milhares de negros e homossexuais que são mortos no Brasil não é pauta nas lutas da igreja. Milhares de mulheres espancadas e mortas por homens que se sentem seus donos não incomoda os líderes dessas igrejas. Não vejo uma participação efetiva de líderes religiosos, que têm a força da mídia e a força de igrejas milionárias, na luta contra o abuso sexual das crianças no Nordeste do Brasil. Eu não vejo, algumas dessas igrejas, preocupadas com má distribuição de renda no nosso país. Não, eles não se incomodam!

Eu vejo líderes mais preocupados com aquilo que eles chamam de moral e bons costumes, ao ponto de ultrapassar os limites do amor, do cuidado e da compreensão. 

Eu vejo igrejas que esqueceram do amor verdadeiro ensinado por Jesus. Eu vejo igrejas que esqueceram do próprio Jesus, que dizem manchar por Ele, mas que estão sem Ele.

Apesar de tudo e da igreja eu ainda acredito no amor verdadeiro de Jesus, no seu Evangelho Puro e Simples, que ama e acolhe a todos. 

Que nossa busca diária seja esta: andar como Jesus andou e amar como Ele mesmo nos amou, só assim seremos verdadeiramente conhecidos como seus seguidores (João 13.34 e 35).

Wilton Lima

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